segunda-feira, 3 de março de 2008

Às plamas do deserto

"Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."
Carlos Drummond de Andrade

Poderia até citar outros poetas, outras dores, outros versos que imploram os tapas do amor, e se moslestiam porque gostam. Assim sabem que vivem, que amam e desamam, que teimam em abrir a caixa de Pandora, sofrer suas penas e alegrar-se pelo próprio sofrimento.
Felizes os que sofrem por amor, pois estes não levam no peito um coração amordaçado, não desistem de ver doçura na vida e acreditam na transformação, seja ela por nascimento ou por morte. Sim, que vivam em júbilo os amantes solitários, que estes sentem o sangue de seus companheiros, têm a boca tremula, os movimentos cardíacos acelerados, reconhecem os cheiros, os sabores e as memórias.
Muito mais contente é o ser amante que o ser somente amado, este infeliz que conta as migalhas do pão partido, a qualidade da rosa dada, a liberdade assistida. Quero antes me afogar nas lágrimas, tomar países e fazer revoluções!

sábado, 26 de janeiro de 2008

brandos gemidos

Escrevo para amansar meus ímpetos. Aqueles que não são tão profundos, a ponto que já arderem em pele. Colocando em cheque a breve racionalidade que ainda procuro ter. Se a solidão não mais me acalenta a alma, sinto agora um vazio no estômago, um pequeno soluçar no peito. Se não me sinto ainda pertencida, tenho a sensação de transbordar com potencial para alerta máximo da defesa civil! Mas caminho por trechos seguros. Longe dos olhos da matilha urbana as aguás do Velho Chico encontram o mar produzindo um espetáculo inenarrável de um estupor. Cansadas e frias encontram o calor se fundindo com tesão destrutivo.

domingo, 13 de janeiro de 2008

A moça e a água

Simplesmente não havia solução. Passavam-se os anos, os meses, os dias, as horas os minutos, os segundos. Mas não deu tempo dela perder sua beleza jovial, talvez não tenha passado nenhum ano sequer. Mesmo assim, ela se sentida tirada do mundo, um mundo que já houvera acabado, mas a esqueceram ali. Nem mesmo a chuva que caia fina por entre seus cabelos castanhos conseguia acalentar tanto desespero. O socorro era inútil, até porque seu plano de saúde não cobria transtornos cardiovasculares. Não sei exatamente qual era o problema dela, nem tenho certeza se vazou alguma coisa, só sei que doía por ali.
A chuva simplesmente ironizava seu vagar sozinha, impondo-se gota a gota no doso triste, vangloriando-se do seu estar em grupo. Como as belas amigas que mesmo tocando seu ombro com carinho e atenção a cobram por tantas coisas sem sentido aparente. Não é que os reclames daquelas formosas musas aquáticas sejam impossíveis. Mas eles parecem simplesmente não existir nesse mundo, no qual ela foi trazida inconsciente por alguma coisa que nem ela sabe o que era. Se aquela moça realmente acreditasse na sua pimenteira diria que foi obra do retorno se seu espírito a um mundo inferior, ou superior, mas isso não importa, só sabia que aquele mundo não era o seu.
Que chuva impertinente! Nem em Macondo choveu tanto. Em conversa com um Buendia que encontrou em algum lugar do mundo, o ouviu dizer que era mentira o fim de sua linhagem. Ela escutou atentamente seu relato. A longa aba do chapéu daquele homem parecia conter a chuva e ela quase se sentia confortável naquele mundo. Muitos Buendias passaram na sua vida e ela percebeu que não só ela, mas que todos eles haviam sido retirados também de um mundo e postos ali, para sofrer com a chuva silenciosa, mas continua. A diferença é que todos pareciam não se importar com a chuva, à alguns caia ainda mais graciosa.
Não sei o que dizer a essa moça extraterrestre e tão linda, que sabe tão bem que linda e que não é daqui. Poderia aconselhá-la a comprar um chapéu, mas eu sei, e ela não sabe, mas a chuva continuará a castigá-la o doso. Não deixará de chover, quando parar talvez ela não esteja mais tão bela. Neste caso o castigo não será mais a chuva, mas o tempo. Queria que ela se fizesse bonita mesmo na chuva, que ela entendesse que vagar sozinha pode ser vagar consigo. Talvez seja esse o segredo, talvez eu o tenha descoberto agora. A chuva sempre se perde no caminho, por mais que precipite imponente sempre cai morta no chão. O seu único prazer é no pequeno instante de vida que lhe é permitido poder ser mais unida, maior que todos nós que fomos postos aqui fadados a não sei se cem, mas certamente à alguns anos de chuva. Ela cai, cai, cai. Tenta cair cada vez mais pesada para que nos desesperemos a olhar as nuvens e não prestemos atenção no seu escorrer tímido, rastejante e humilde por entre os bueiros. A chuva inveja o homem, diminui suas qualidades para deixá-los fracos, mas mesmo que ela seja a chuva cai gota a gota e só se torna unida, quando se torna lama. Poucas são as gotas que caem no mar, essas têm retorno garantido ao mundo das águas, mas novamente cairá dos céus e desta vez talvez não tenha a mesma sorte.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Sem compromisso

Tenho sentido um excesso de eu mesma. Sabe, estou me sentindo muito bem com isso. Tenho que contar à ti meu amor: Andei te traindo com outros papéis. Não quero que se quedes triste. Mas preciso assumir que tantas inspirações me vieram e nem sequer lembrei de ti. Mentira, lembrei sim, porém isso irá doer mais que a falsidade. De fato eu te quis longe em todos os momentos que não estive perto. Não, não pense que houve algum motivo especial. Simplesmente não me deu vontade. Sim, não queria olhar para ti e ter que dizer alguma coisa. Não chega a ser asco. Mas o que me veio não te pertencia. Sei que teu desejo era transformar tudo de mim. Transformar o meu ódio, meu amor, minha dor, meus sonhos e tudo mas que eu pudesse ter, ser ou sentir, em palavras. Reconheço alegremente que por muitas vezes fez belos trabalhos. Mas não sei se eles eram exatamente o que eu queria dizer. A linguagem metamorfoseia os sentimentos. E você já está me fazendo mudar de assunto. Preciso falar-lhe sobre nós dois. Não insista para saber o que me passou, não quer contar. As inspirações que me tomaram foram isoladas e não cabe se não soltas no ar. Não, por favor. Pare de me torturar. Porque tens essa necessidade de tirar tudo de mim?
Tudo bem, mais uma vez venceste.
Tens a tua opinião guarde-a para ti.
Vivo em um bucolismo urbano.
Enganamos a vida na rotina.
Os jovens perdem a vida ao tentar ganha-la. Pensam que podem subverter o tempo para viver mais, contudo o que fazem é evitar a vida.
Tomas meu sacrifício. Era o que querias, não. Mais uma vez me entrego redimida aos teus braços.

sábado, 24 de novembro de 2007

O sorriso de Monalisa

Os olhos que tudo vêem não dam descanso a nada, olha incessantemente ao redor, dar seu crédito e o desdém é seu fado. Quanta ameaça oferecem esses olhos, essas testemunhas dos males silenciosos, quantas vergonhas seriam evitadas se as pestanejadas pudessem ter sido um pouco mais longas.
Algozes, mas também vítimas, tem tudo mas é só, corriqueiro, mas os olhos que avistam o horizonte nada tem junto a si mesmo, o horizonte é sempre horizonte, por incrível que pareça, mais próximo ou mais avastado, talvez até inalcansável ou quase tocável com a ponta dos cilios, mas sempre horizonte.
E se as lágrimas lavam seu terreno, nada faz senão levar tudo para mais distante e se e em um ato tático de desespero decretar estiagem por tempo indeterminado tudo se solidificará, inclusive esse pânico, como se um vulcão rompesse transformando o mundo em pedra, mas conservando o temores das faces.
Sem ter o que fazer os olhos se fecham, e tentam cerrar cada vez mais forte, nesse momonto eles sentem a companhia da morte, e não estam mais tão sós, conseguem vê-la se aproximando a passos lentos e é seca, disforme, aconchegante. Permanecem ligados a ela até que a vêem se afastar lentamente com seu sorisso debochado e ao pestanejar as luzes matinais denunciam que algo pode ter mudado, que talvez alguma coisa seja alcansável ou que tudo tenha acabado, que vai deixar de ser quase sozinho.

sábado, 17 de novembro de 2007

Aplausos

O palhaço se prepara para mais um show, enquanto pinta a lágrima artificial da sua pele a rotina castigada tenta esconder a dor da vida nos aplausos do respeitável público. Bilheteria, algodão doce, papai, titio, sorrisos infantis, todos estão perfeitamente contentes? Estão ansiosos para ver o pobre palhaço cair, chorar, rolar como um bobo da corte?
Ahhhh que profissão feliz essa de levar o riso para o mundo, o povo quer rir, os adultos querem voltar a ser crianças! As crianças nem pensam em ser adultos! E o palhaço? Ele também queria ser astronauta quando crescesse. Mas todo mundo esquece algumas coisas ou simplesmente tenta esquecer!? Nesse curto momento de extase onde tudo é mágico, não precisamos saber do quem somos, ou porque somos; podemos com toda cara hipócrita acreditar que a culpa não é nossa. Culpa de que o leitor se pergunta. É exatamente essa culpa que procuramos esconder no tapete, ela que nos coloca na defensiva e nos faz dizer que não temos nada a ver, que somos poucos é essa a culpa que nos torna satisfeitos de fazer a nossa porca parte, tão mesquinha e mediocre.