Simplesmente não havia solução. Passavam-se os anos, os meses, os dias, as horas os minutos, os segundos. Mas não deu tempo dela perder sua beleza jovial, talvez não tenha passado nenhum ano sequer. Mesmo assim, ela se sentida tirada do mundo, um mundo que já houvera acabado, mas a esqueceram ali. Nem mesmo a chuva que caia fina por entre seus cabelos castanhos conseguia acalentar tanto desespero. O socorro era inútil, até porque seu plano de saúde não cobria transtornos cardiovasculares. Não sei exatamente qual era o problema dela, nem tenho certeza se vazou alguma coisa, só sei que doía por ali.
A chuva simplesmente ironizava seu vagar sozinha, impondo-se gota a gota no doso triste, vangloriando-se do seu estar em grupo. Como as belas amigas que mesmo tocando seu ombro com carinho e atenção a cobram por tantas coisas sem sentido aparente. Não é que os reclames daquelas formosas musas aquáticas sejam impossíveis. Mas eles parecem simplesmente não existir nesse mundo, no qual ela foi trazida inconsciente por alguma coisa que nem ela sabe o que era. Se aquela moça realmente acreditasse na sua pimenteira diria que foi obra do retorno se seu espírito a um mundo inferior, ou superior, mas isso não importa, só sabia que aquele mundo não era o seu.
Que chuva impertinente! Nem em Macondo choveu tanto. Em conversa com um Buendia que encontrou em algum lugar do mundo, o ouviu dizer que era mentira o fim de sua linhagem. Ela escutou atentamente seu relato. A longa aba do chapéu daquele homem parecia conter a chuva e ela quase se sentia confortável naquele mundo. Muitos Buendias passaram na sua vida e ela percebeu que não só ela, mas que todos eles haviam sido retirados também de um mundo e postos ali, para sofrer com a chuva silenciosa, mas continua. A diferença é que todos pareciam não se importar com a chuva, à alguns caia ainda mais graciosa.
Não sei o que dizer a essa moça extraterrestre e tão linda, que sabe tão bem que linda e que não é daqui. Poderia aconselhá-la a comprar um chapéu, mas eu sei, e ela não sabe, mas a chuva continuará a castigá-la o doso. Não deixará de chover, quando parar talvez ela não esteja mais tão bela. Neste caso o castigo não será mais a chuva, mas o tempo. Queria que ela se fizesse bonita mesmo na chuva, que ela entendesse que vagar sozinha pode ser vagar consigo. Talvez seja esse o segredo, talvez eu o tenha descoberto agora. A chuva sempre se perde no caminho, por mais que precipite imponente sempre cai morta no chão. O seu único prazer é no pequeno instante de vida que lhe é permitido poder ser mais unida, maior que todos nós que fomos postos aqui fadados a não sei se cem, mas certamente à alguns anos de chuva. Ela cai, cai, cai. Tenta cair cada vez mais pesada para que nos desesperemos a olhar as nuvens e não prestemos atenção no seu escorrer tímido, rastejante e humilde por entre os bueiros. A chuva inveja o homem, diminui suas qualidades para deixá-los fracos, mas mesmo que ela seja a chuva cai gota a gota e só se torna unida, quando se torna lama. Poucas são as gotas que caem no mar, essas têm retorno garantido ao mundo das águas, mas novamente cairá dos céus e desta vez talvez não tenha a mesma sorte.
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