sábado, 24 de novembro de 2007

O sorriso de Monalisa

Os olhos que tudo vêem não dam descanso a nada, olha incessantemente ao redor, dar seu crédito e o desdém é seu fado. Quanta ameaça oferecem esses olhos, essas testemunhas dos males silenciosos, quantas vergonhas seriam evitadas se as pestanejadas pudessem ter sido um pouco mais longas.
Algozes, mas também vítimas, tem tudo mas é só, corriqueiro, mas os olhos que avistam o horizonte nada tem junto a si mesmo, o horizonte é sempre horizonte, por incrível que pareça, mais próximo ou mais avastado, talvez até inalcansável ou quase tocável com a ponta dos cilios, mas sempre horizonte.
E se as lágrimas lavam seu terreno, nada faz senão levar tudo para mais distante e se e em um ato tático de desespero decretar estiagem por tempo indeterminado tudo se solidificará, inclusive esse pânico, como se um vulcão rompesse transformando o mundo em pedra, mas conservando o temores das faces.
Sem ter o que fazer os olhos se fecham, e tentam cerrar cada vez mais forte, nesse momonto eles sentem a companhia da morte, e não estam mais tão sós, conseguem vê-la se aproximando a passos lentos e é seca, disforme, aconchegante. Permanecem ligados a ela até que a vêem se afastar lentamente com seu sorisso debochado e ao pestanejar as luzes matinais denunciam que algo pode ter mudado, que talvez alguma coisa seja alcansável ou que tudo tenha acabado, que vai deixar de ser quase sozinho.

sábado, 17 de novembro de 2007

Aplausos

O palhaço se prepara para mais um show, enquanto pinta a lágrima artificial da sua pele a rotina castigada tenta esconder a dor da vida nos aplausos do respeitável público. Bilheteria, algodão doce, papai, titio, sorrisos infantis, todos estão perfeitamente contentes? Estão ansiosos para ver o pobre palhaço cair, chorar, rolar como um bobo da corte?
Ahhhh que profissão feliz essa de levar o riso para o mundo, o povo quer rir, os adultos querem voltar a ser crianças! As crianças nem pensam em ser adultos! E o palhaço? Ele também queria ser astronauta quando crescesse. Mas todo mundo esquece algumas coisas ou simplesmente tenta esquecer!? Nesse curto momento de extase onde tudo é mágico, não precisamos saber do quem somos, ou porque somos; podemos com toda cara hipócrita acreditar que a culpa não é nossa. Culpa de que o leitor se pergunta. É exatamente essa culpa que procuramos esconder no tapete, ela que nos coloca na defensiva e nos faz dizer que não temos nada a ver, que somos poucos é essa a culpa que nos torna satisfeitos de fazer a nossa porca parte, tão mesquinha e mediocre.