sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Sem compromisso

Tenho sentido um excesso de eu mesma. Sabe, estou me sentindo muito bem com isso. Tenho que contar à ti meu amor: Andei te traindo com outros papéis. Não quero que se quedes triste. Mas preciso assumir que tantas inspirações me vieram e nem sequer lembrei de ti. Mentira, lembrei sim, porém isso irá doer mais que a falsidade. De fato eu te quis longe em todos os momentos que não estive perto. Não, não pense que houve algum motivo especial. Simplesmente não me deu vontade. Sim, não queria olhar para ti e ter que dizer alguma coisa. Não chega a ser asco. Mas o que me veio não te pertencia. Sei que teu desejo era transformar tudo de mim. Transformar o meu ódio, meu amor, minha dor, meus sonhos e tudo mas que eu pudesse ter, ser ou sentir, em palavras. Reconheço alegremente que por muitas vezes fez belos trabalhos. Mas não sei se eles eram exatamente o que eu queria dizer. A linguagem metamorfoseia os sentimentos. E você já está me fazendo mudar de assunto. Preciso falar-lhe sobre nós dois. Não insista para saber o que me passou, não quer contar. As inspirações que me tomaram foram isoladas e não cabe se não soltas no ar. Não, por favor. Pare de me torturar. Porque tens essa necessidade de tirar tudo de mim?
Tudo bem, mais uma vez venceste.
Tens a tua opinião guarde-a para ti.
Vivo em um bucolismo urbano.
Enganamos a vida na rotina.
Os jovens perdem a vida ao tentar ganha-la. Pensam que podem subverter o tempo para viver mais, contudo o que fazem é evitar a vida.
Tomas meu sacrifício. Era o que querias, não. Mais uma vez me entrego redimida aos teus braços.

sábado, 24 de novembro de 2007

O sorriso de Monalisa

Os olhos que tudo vêem não dam descanso a nada, olha incessantemente ao redor, dar seu crédito e o desdém é seu fado. Quanta ameaça oferecem esses olhos, essas testemunhas dos males silenciosos, quantas vergonhas seriam evitadas se as pestanejadas pudessem ter sido um pouco mais longas.
Algozes, mas também vítimas, tem tudo mas é só, corriqueiro, mas os olhos que avistam o horizonte nada tem junto a si mesmo, o horizonte é sempre horizonte, por incrível que pareça, mais próximo ou mais avastado, talvez até inalcansável ou quase tocável com a ponta dos cilios, mas sempre horizonte.
E se as lágrimas lavam seu terreno, nada faz senão levar tudo para mais distante e se e em um ato tático de desespero decretar estiagem por tempo indeterminado tudo se solidificará, inclusive esse pânico, como se um vulcão rompesse transformando o mundo em pedra, mas conservando o temores das faces.
Sem ter o que fazer os olhos se fecham, e tentam cerrar cada vez mais forte, nesse momonto eles sentem a companhia da morte, e não estam mais tão sós, conseguem vê-la se aproximando a passos lentos e é seca, disforme, aconchegante. Permanecem ligados a ela até que a vêem se afastar lentamente com seu sorisso debochado e ao pestanejar as luzes matinais denunciam que algo pode ter mudado, que talvez alguma coisa seja alcansável ou que tudo tenha acabado, que vai deixar de ser quase sozinho.

sábado, 17 de novembro de 2007

Aplausos

O palhaço se prepara para mais um show, enquanto pinta a lágrima artificial da sua pele a rotina castigada tenta esconder a dor da vida nos aplausos do respeitável público. Bilheteria, algodão doce, papai, titio, sorrisos infantis, todos estão perfeitamente contentes? Estão ansiosos para ver o pobre palhaço cair, chorar, rolar como um bobo da corte?
Ahhhh que profissão feliz essa de levar o riso para o mundo, o povo quer rir, os adultos querem voltar a ser crianças! As crianças nem pensam em ser adultos! E o palhaço? Ele também queria ser astronauta quando crescesse. Mas todo mundo esquece algumas coisas ou simplesmente tenta esquecer!? Nesse curto momento de extase onde tudo é mágico, não precisamos saber do quem somos, ou porque somos; podemos com toda cara hipócrita acreditar que a culpa não é nossa. Culpa de que o leitor se pergunta. É exatamente essa culpa que procuramos esconder no tapete, ela que nos coloca na defensiva e nos faz dizer que não temos nada a ver, que somos poucos é essa a culpa que nos torna satisfeitos de fazer a nossa porca parte, tão mesquinha e mediocre.